A gula justifica o seu posto enquanto pecado mortal. São dias de sacrifício que de um momento para o outro se esvaiem em calafrios, em irritabilidade que não esclarecem o eterno "porquê?".
Hoje foi dia de visitas. E como acontece em todas as casas, quando há visitas, as toalhas amareladas pelo tempo, os serviços mais finos que qualquer criança anseia ver a ser utilizado(porque assim não terá de pôr ou levantar a mesa, ou mesmo lavar a loiça, na eventualidade de poder partir um qualquer exemplar) saiem dos móveis e gavetas entreabertas pelo prazer do "bem-receber". A comida... Não consigo compreender!
Os nossos convidados são pessoas especiais, próximas, familiares, são pessoas que nós gostamos. Então, porque é que a ementa ronda, no mínimo, quatro pratos em cada uma das refeições procurando apurar cada tempero com um refugado em azeite bem encorpado no lume, um molho enriquecido em gordura e bons vinhos?! Se gostamos dessas pessoas devíamos fornecer-lhes uma alimentação equilibrada.
Mas o que eu gosto mesmo ... as sobremesas. Existem sobremesas de todas as cores, temperaturas, sabores, apresentações. Para todos os gostos é que não acredito. Assim como, não sei como é possível alguém afirmar que odeia chocolate. Chocolate...o aroma, a textura, o amargo do cacau que se confunde e amacia com o leite...absolutamente divinal. Tudo isto para chegar à tarte hungara que se encontrava no outro lado da mesa. Pensei duas vezes. Balancei entre a dieta e o prazer. Na verdade já havia saboreado aquela tarte no melhor momento, na sua confecção. Não! Não a provei. Aproveitei o que de melhor há nos bolos, bolinhos e qualquer outra especialidade que o possibilite - rapei o tacho!
É aqui que ela entra...a gula! Tem um poder inacreditável. Não resiti e comi uma fatia.